domingo, 13 de dezembro de 2009

A/C Dr. João
















Olá Dr. João, como vai?

Estava andando ontem na rua e me lembrei que posso contar com você pra isso, lembra da minha gata, a Marguerita? pois é, já faz um tempo que fugiu, mesmo depois de todo cafuné e leite ela saiu pra dar uma volta e por lá ficou, vc sabe, eu tratava dela muito bem, dava toda a atenção que precisava, alimentava direitinho, dava bastante carinho, e as vezes, pra vida dela ter aventuras e não se tornar monótona eu deixava ela sair pra passear, conhecer outros gatinhos quem sabe! tudo ia tão bem doutor, era um dia especial, esse dia eu tinha planos pra ela, tava pensando em talvez arrumar outro gatinho pra lhe fazer (e me fazer também é claro) companhia, foi um ótimo dia pra nós duas, brinquei bastante com ela e tenho certeza que estava muito feliz, a noitinha ela foi até a porta como de costume pra poder passear um pouco (mal sabia eu o que me esperava). No dia seguinte pela manhã ela não estava em sua caminha, fui até o quintal, chamei até ficar cansada mas nada dela aparecer, as horas foram passando e cada vez mais foi se juntando no meu peito a certeza do meu maior temor, ela havia fugido! Mas pra onde? mas por quê? aaah doutor, o senhor não imagina o quanto sofri, imaginei que ela poderia estar perdida, ferida, doente e eu não podia fazer nada pra ajudar, depois fiquei com muita raiva, eu a amava tanto, dava o melhor de mim pra ela, por que ela foi fazer isso comigo? achei tão injusto, ela foi sem me dar satisfações, ela foi e em sua tigela ainda havia leite morno! Até que depois de um tempo comecei a pensar em outras possibilidades, ela poderia estar feliz e bem nutrida em outro lar, talvez algum com outros gatinhos que brincassem com ela e a entendesse melhor que eu, ela poderia estar crescendo saudável e bonita como sempre foi só que em outro lugar. Doutor, não sei se isso é comum em pessoas abandonadas por seus gatos como eu, mas quando concebi essa idéia fiquei com muita raiva, não só dela, mas de todas os gatos do mundo, não queria mais saber de nenhum, joguei as tigelas de leite fora, os novelos de lã, tampei a passagem de gatos na porta com madeira e pregos! Pronto, agora eu estava salva, salva e sozinha, sozinha e triste.
O tempo passou, passou bastante tempo doutor, e agora já estou bem melhor, esses dias até cuidei do gato de um amigo que viajava, não penso mais mal da minha gatinha, não penso mais nela com tanta frequência também, mas penso! penso em tudo que fizemos juntas e me fez ser muito feliz enquanto ela estava ao meu lado e hoje isso me basta, as vezes ouço miados na rua, podem ser dela, se forem, que bom e só!
Mas ontem doutor, ontem eu a vi! estava andando feliz e sorridente com outros gatinhos e gatinhas, fique atônita, ela continuava a existir pra mim, mas em lembranças e fotos, não concebia a idéia de ve-la novamente, já me acostumara com a solidão, mas lá estava ela, trocamos olhares, juro! por alguns momentos achei até que ela queria me ver, queria "falar" comigo, e aí que vem o motivo dessa carta doutor, eu não soube o que fazer! admito que senti até um pouco de medo, não tive coragem de chegar até ela e lhe entregar o cafuné que tenho guardado ha tanto tempo, tudo passou na minha cabeça tão rápido, fiquei tão confusa, fui tão covarde, ela foi embora e eu fiquei lá, sem dizer pra ela que estava tudo bem, que ela podia passar lá em casa pra tomar um leitinho quem sabe, fui boba doutor, eu tive medo do que podia sentir.
Espero que eu tenha sido clara, na próxima consulta discutimos seus pareceres sobre isso, quanto ao dinheiro que estou te devendo, fique tranquilo, transferi hoje pra sua conta, você é um ótimo psicólogo!

abraços
 
Frederica

Nenhum comentário: