Bar do Kari, 17:00, sábado, a mesa de sempre
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Camila- Perdi meu celular, e eu estava exatamente aqui ontem, eu, o Lucas e o Jairo, um amigo dele.
Tame- Você sorriu quando disse o nome dele.
C- Sorri foi?
T- É!
C- Ah, então sorri rsrs! (bochechas um pouco vermelhas)
T- Você gosta muito dele né?
C- (balança a cabeça afirmativamente com uma expressão de "e agora?" no rosto)
T- Que foi?
C- Tô com medo!
T- De quê?
C- Do que eu tô sentindo, eu tava tão decidida que iria ficar sozinha por anos á fio, que não entregaria meu coração nunca mais pra não ficar assim tão frágil e desprotegida.
T- Mas o amor nos fortalece
C- E fortalece por que?
T- ???
C- Pra criar músculos a gente tem que malhar, levantar muito peso, se machucar, sentir dor, ter força de vontade, disciplina e muuuuita paciência. O amor é igual, só nos fortalece porque pra vive-lo temos que fazer tudo isso também.
T- E você tá amando?
C- Pois é, a cada dia mais, e fui notando isso crescer dentro de mim como uma planta saca? Que foi plantada ainda sementinha, e ta crescendo, criando raízes, ficando bela e forte pra um dia poder florescer e dar frutos, e é uma sensação tão ambígua, é altruísta e egoísta, é a beleza de sentir e a dor de tanto querer, é a angústia da espera e o prazer do reencontro, é a azeda criação de expectativas, a doação do próprio eu, que na avalanche que esse sentimento causa já não se encontra só aqui comigo, mas alí também (aponta em direção a casa do rapaz) e é essa sensação de não estar completa quando estou sem ele que me deixa louca da vida (olhos ficando marejados) tenho um sonho utópico de uma vida tranquila e simples, onde o amor brota de cada canto da casa, e tropeço nos sorrisos que deixamos espalhados pelo chão no dia anterior antes de irmos dormir.
T- Isso tudo é tão forte e bonito, por que te deixa com medo?
C- Por ser tão forte e bonito! (risos) Não quero perder isso, não quero sofrer a dor do buraco que essa perda causaria em mim, e a vida é tão surpreendente que pode me tirar a oportunidade de viver o amor das formas mais bruscas, violentas e injustas que podem existir.
T- Pode mesmo, mas até lá, e SE esse "lá" chegar vc só pode viver o amor da melhor maneira possível, afinal já tá atolada nele até o pescoço.
C- Pois é (risos)
T- (Risos)
C- (terminando de beber a cerveja que estava em seu copo) acabou, pede mais uma?
T- Opa!